Opinião
Salve as favelas
Sandro Mesquita
Coordenador da Central Única das Favelas (Cufa) Pelotas e Extremo Sul
[email protected]
Comunidades, periferias, bairros, vilas, malocas, favelas. Qual é o termo usado que fique bem entendido ou melhor adequado ao momento que nos direcionamos aos territórios vulnerabilizados, precários e quase inabitáveis pela a ausência do Estado, ou seja, pela falta de políticas públicas e serviços de qualidade em diversas áreas?
O IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas se direcionava a esses locais como "aglomerados subnormais", termo que verdadeiramente não soava muito bem.
A questão é que independente do termo, esses locais e territórios infelizmente estão sempre relacionados estrutural e historicamente com pobreza, miséria, crimes, tráfico e violência, aprendemos e somos condicionados a olhar esses locais e as pessoas que residem lá com desprezo, medo, nojo, estabelecer um conceito prévio, acreditando que desses locais não venha ou exista nada de bom.
As próprias pessoas moradores desses espaços por uma questões educacionais têm a sua estima baixa. E quando falo educacional estou me referindo tanto a educação formal das escolas e livros didáticos que sempre "pintaram" um monstro em relação às pessoas, como também os meios de comunicação de massa que nunca tiveram o interesse de criar uma imagem diferente e real do povo brasileiro na sua maioria negros.
A Central Única das Favelas (Cufa), desde a sua fundação, em 1999, no Rio de Janeiro, tem trabalho muito em cima desse termo na sua sigla. Mesmo sendo um termo usado pejorativamente pra relacionar o local e as pessoas com aquilo que não bom, tentamos ressignificar o termo e inverter a lógica.
Afinal de contas, de onde vem o termo Favela? Uma planta que foi encontrada no pé do Morro da Providência quando pessoas negras na sua maioria foram "convidadas" de forma não muito cordial a se retirarem da zona central da cidade do Rio, isso para abreviar.
A questão é que a Cufa resistiu e colocou em quase todos os seus projetos o termo Favela na tentativa de criar uma narrativa positiva e de elevação da auto-estima.
Sempre no intuito de promover o entendimento de ambos os lados a cerca da potencial existente e construído dentro dessas localidades.
Além dos projetos que não só leva a nomenclatura, mas que contribui pro desenvolvimento das pessoas. A ideia não é glamourizar a favela, mas sim dar dignidade a maior parte das pessoas que lá vivem, são trabalhadores e construtores da sociedade vivendo na base da pirâmide.
A Cufa então ajuda o IBGE a entrar em alguns territórios que fugiam por algum motivo ao alcance da instituição inviabilizando alguns números.
O projeto "Favela no Mapa" possibilitou munir o governo federal com dados e informações colhidos diretamente nas comunidades visando a implantação de políticas públicas mais assertivas para o desenvolvimento destes territórios.
Da parceria entre o IBGE, Ministério do Planejamento, Data Favela e Cufa foi possível obter informações como:
O Brasil possui hoje mais de 13 mil favelas, nestas moram mais de 17 milhões de habitantes. Se reunidas, todas as favelas brasileiras formariam o terceiro maior Estado do País. O poder de consumo e, portanto, de produção anual das favelas brasileiras é de R$ 202 bilhões.
O IBGE então bate o martelo e destina o termo Favela para todos os territórios, independente do local do País, independente de ser na horizontal ou vertical. Me perguntem agora: tem favela em Pelotas? Sei que ainda vai demorar um pouco a compreensão, mas a verdade é que Favela não e carência, Favela é Potência!
Carregando matéria
Conteúdo exclusivo!
Somente assinantes podem visualizar este conteúdo
clique aqui para verificar os planos disponíveis
Já sou assinante
Deixe seu comentário